- Onde eu tô?!
Disse Celso, que simplesmente surgiu em uma sala toda branca, sem paredes e sem teto, era quase como se estivesse andando no infinito, ou no consultório de um dentista megalomaníaco. Celso olhou em volta desesperado, mas não viu nada.
- Calma aí!
Quem disse isso? Calma, tem alguém ali. É um cara de terno, segurando um banquinho, e ele está… sorrindo?
- Opa, você é o Celso, né? - perguntou amigavelmente o homem misterioso - Prazer, meu nome é Sérgio, e você morreu.
- Como assim eu morri?
- Morreu, ué. Qual é a última coisa que você se lembra?
Celso se lembrou. Ele havia sentido uma forte dor no peito, mas pensou que era gases, e decidiu ignorar.
- Então não era gases?
- Dessa vez não… - disse Sérgio com pesar.
Celso bambeia, meio tonto, e rapidamente Sérgio posiciona o banquinho no chão e ajuda o novo morto a se sentar para processar melhor a notícia. E depois de alguns segundos em silêncio e com o olhar vazio contemplando a imensidão do nada, Celso percebe Sérgio, o homem de terno ao seu lado que não parava de sorrir.
- E você quem é? - pergunta Celso.
- Sou o Sérgio.
- Você é Deus?
- Não, eu sou o Sérgio.
- Sérgio é o nome de Deus?
- Não, Sérgio é o meu nome.
- Então você é um demônio?
- Não.
- Então quem é você?
- Eu sou o Sérgio.
Celso e Sérgio se encaram em silêncio.
- Eu explico… - disse Sérgio - Aconteceram alguns mal entendidos desde que o homem moderno começou a morrer e isso estava gerando uma série de problemas e reclamações.
- Que tipo de mal entendidos?
- Expectativa. Todo mundo que morria esperava algo diferente… Uma cidade de ouro, um harém com 70 virgens, outro planeta, e alguns até queriam voltar na forma de pato.
- De pato?
- Pois é… Aí fui criado pelo universo para atender a necessidade de explicar para a raça humana que é só isso mesmo.
- O que é só isso mesmo?
- Tudo.
- Tudo?
- Sim, tudo.
- Mas tudo?
- Tudo.
- Não é possível.
- Pior que é possível sim.
- E depois daqui?
- É tipo isso, só que menos.
- Menos tipo quanto?
- Tipo nada.
- Então depois disso não tem nada?
- Menos que nada, na real.
- Tem certeza?
- Tenho.
- Mas é certeza mesmo?
- Sim. Você não viveu tudo? Riu, chorou, dançou, amou, odiou, chorou de novo?
- Sim, mas acho que não foi o suficiente.
- É só impressão.
- Então é isso?
- Isso. Entendeu?
- Entendi…
- Tá ótimo. Até nunca mais!
Celso desaparece assim como apareceu, do nada. Sérgio pega o banquinho e dá uma pequena limpada no assento.
- Onde eu tô?! - diz uma outra voz desesperada.
- Calma aí! - responde Sérgio, que coloca o banquinho debaixo do braço e corre em direção à voz, pronto para dar as boas-vindas a mais um recém-chegado.